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Prateleira

ideias, dicas e truques vai rolar a festa

Um feliz aniversário

Eu nasci no outono mas minha mãe conta que exatamente naquele dia o tempo esquentou e o sol apareceu, junto comigo, bem cedinho, como se fosse um dia de verão. Talvez isso explique a birra que eu tenho de frio e minha imensa preferência pelos brilhantes dias de sol. São Pedro desde então já parecia meu chapa, mas foi no último aniversário que ele provou que realmente é meu fã.
Decoração da festa de aniversário planejada com antecedência (como tudo que eu faço) e cardápio fechado para uma noite de final de outono – sopas, cremes e caldos com muitos pães e vinhos (inclusive quente) e a companhia de poucos e bons amigos queridos.

Semana da festa – dias com temperatura média de 30ºC e noites mais para quentes do que para frescas. Imaginei meus convidados tomando sopas e suando em bicas. Acrescentei cervejas e uma sangria gelada ao cardápio e praguejei até não poder mais, claro.

Mas… lá veio São Pedro de novo me provar que é um bom camarada. Amanheceu o dia da festa e com ele uma temperatura amena, como convém a um dia de outono. Já a noite foi como tinha que ser – fria, bem fria.
Resumo da ópera: convidados agasalhados, aquecidos pelas sopas, pelo clima delicioso da festa, pela trilha bacana de versões e, claro, pelo vinho tinto, que foi consumido na sangria (outra vez sucesso absoluto), quente e ainda normal (cabernet sauvignon).

Mais perfeito, impossível.

* post originalmente publicado no blog Rainhas do Lar

delírios e outros bichos

O amor e as chaves com pernas

Ele era um cara tranquilo, inteligente, bonito e educado mas um defeito genético o impedia de ser organizado. Vivia no meio do caos e lá se encontrava. Tudo à sua volta não tinha lógica e não fazia sentido mas, insistia ele, existia beleza no caos e tendo ele alma de artista, era normal que preferisse viver cercado dela.
Ela ao contrário era controladora, metódica e com forte tendência militar. Já na infância ganhara o apelido de “general”, tal sua queda pelo controle. Sua organização era perfeita, lógica e nada fugia do seu controle (embora as más-línguas teimem em dizer que ela se permitia uma fraqueza – seus cds, que seguiam uma estranha lógica de (des)organização – mas, a verdade nunca se soube pois ela jamais admitiria tal fato).

Por um desses caprichos do destino os dois se encontraram e, na estranha balança da vida, descobriram que se compensavam. Ele bagunçou o arrumado mundo dela, enquanto ela trouxe uma certa ordem ao caos da vida dele. Era certo – eles se apaixonaram e, como acontece em toda boa história de amor, os dois já não conseguiam mais viver longe um do outro.
Foi então que uniram suas escovas de dente e repletos de amor passaram a dividir a cama que ficava agora sob o mesmo teto.

(*suspiros)

É aí que nossa história de amor água-com-açucar ganha sua primeira guinada – o romance ganha ares de mistério quando nossa mocinha apaixonada se vê diante do terrível enigma das chaves com pernas.
Como que por encanto, as chaves daquela casa sumiam todas as vezes que ela as procurava. Eram da porta, do cadeado, do carro … todas as chaves simplesmente desapareciam.
A veia militar de nossa heroína a faria investigar o mistério e a levaria à surpreendente solução do enigma – era seu amado o responsável pelo sumiço das chaves andantes. (OH!). Dizia ele que as chaves tinham forte atração pelo caos e estariam, elas mesmas, provocando deliberadamente a confusão. Negava-se a admitir que sua estranha lógica organizacional (ou a falta total dela) o levava a circular com as chaves em lugares impensáveis como o banheiro, a churrasqueira, a dispensa e lá deixá-las, causando tempos depois uma enlouquecida e insuportável caça às chaves e consequentemente uma forte dor de cabeça em nossa heroína.

Disposta a mudar o terrível e cruel destino que a deixava fadada ao desespero todas as manhãs quando tentava tirar o carro da garagem, ela comprou o acessório que colocaria fim ao sofrimento e traria novamente a paz ao seu organizado mundo – o porta-chaves. Em casa, explicou detalhadamente o funcionamento do mecanismo para seu amado – a localização estratégica do artefato, junto à porta, facilitaria ainda mais a já muito simples operação e assim, tudo estaria resolvido.

Parecia que tudo caminhava para um final feliz, como toda história de amor deve ter, mas novamente o destino, exercendo seu poder, insistia que aquele casal provaria seu amor todas as manhãs, todos os dias. Ele continuaria a perder as chaves e ela passaria seus dias a olhar o inútil acessório pendurado ao lado da porta, que um dia a fez crer que tudo estava sob seu controle.

Resignada, com o tempo nossa heroína descobriria muitas coisas com o episódio das chaves desaparecidas: que o estranho traçado do destino não pode ser controlado, que algumas características do ser amado não podem ser alteradas, que existe até uma certa (pequena, minúscula) beleza no caos, que a ditadura não é um regime válido e, principalmente, que o amor supera obstáculos… até mesmo os supostamente intransponíveis.

E assim, por enquanto eles vivem felizes para sempre.

Fim.

***

Essa é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a vida real é … mera coincidência ;)
Hohoho.

* post originalmente publicado no blog Rainhas do Lar

vai rolar a festa

Comida Thai

Quando eu propus uma noite tailandesa para o encontro da Confraria, sabia que estaria diante de um grande desafio. Primeiro porque não é uma culinária que eu conheço bem e com pratos que eu nunca tinha feito e segundo porque minha idéia principal era que o menu não fosse aquela coisa restaurante-tailandês-no-ocidente, mas sim um resumo do que melhor representasse aquela culinária.
Como desafio é comigo mesma, o primeiro passo foi pesquisar e ler sobre comida thai (usei alguns livros de receitas, revistas de turismo e o bom e velho google) e separar cerca de cinquenta pratos, entre entradas, guarnições, principais e sobremesas. Depois, escolhi entre as receitas aquelas que pudessem ser pré-preparadas para facilitar a finalização na hora do jantar e também aquelas com ingredientes viáveis mas sem perder o toque exótico da coisa. Foi então que cheguei aos oito pratos escolhidos para compor o menu…

Como o propósito não era gastar rios de dinheiro, a decoração também foi pensada para seguir uma linha básica, com algumas referências da cultura thai. As frutas, que tem papel de destaque naquela culinária, faziam parte do cardápio e cumpriam também papel decorativo, trazendo para a mesa um ponto importante – o colorido e a diversidade necessários tanto aos pratos quanto à criação do ambiente. Ao invés de investir muita grana em flores, uma visita a uma casa de produtos para confecção de velas trouxe a solução ideal – folhas coloridas de chá, aromatizadas e secas que são incrivelmente baratas (coisa de 1,00 um pacote grande). Usadas no centro de mesa e combinadas com tealights foram espalhadas em cachepots pela sala e deram o clima necessário.
Quando você imagina uma noite temática, não quer dizer que você tenha que sair comprando milhares de coisas com o motivo escolhido porque nesse caso o máximo que você vai conseguir é deixar tanta informação que acabará confundindo e carregando demais. Basta que você busque elementos ligados ao tema, que podem ser coisas que você inclusive já tem em casa – lenços, vasos, velas. Em vez de sair comprando um monte de objetos com cara asiática, preferi pequenos detalhes muito mais econômicos – os ramos de jasmim em vasos, o detalhe do provérbio tailandês impresso que tinha tudo a ver com o contexto da noite, as flores tradicionais tailandesas pintadas no menu… Aqui eu escolhi dar mais destaque aos pratos, que eram o foco principal da noite, mas se você quiser investir pesado no tema, lembre-se que muitas vezes um pequeno detalhe é que faz a maior diferença. Eu sou uma pessoa que prefere os detalhes…

Para completar o climão, baixei uma coletânea de músicas tailandesas mas… mas… não rolou…rs. Eu penso que a música em uma reunião assim é fundamental, mas ela não pode 1)ter mais destaque do que o necessário; 2) incomodar; 3)cansar e 4)dar dor de cabeça … e as músicas tailandesas…bem, elas são… tailandesas demais, manja? Não que não sejam boas (vai que tem um tailandês lendo isso…rs) mas é que são …er… exóticas, pelo menos para nós, com ouvidos pouco acostumados a esse….er…digamos, exotismo musical. Daí meu marido, bom e perfeito como sempre, gravou uma coletânea em MP3 com o que ele chamou de música-tranquila-para-encontros-de-mulheres-equilibradas, que incluia Enigma, Ennio Morricone, Annie Lennox, 3 Doors Down, 10.000 Maniacs, Tracy Chapman e Madredeus entre outras pérolas, e deu-se aí o fundo musical.

O resto foi muita risada, muita história maluca, novas expressões incorporadas ao vocabulário (né Khrisna?rs) e diversão garantida até às 3 da manhã.

O maior segredo para produzir uma reunião bacana? Reunir gente agradável. Ou, como nós diríamos, chamar a nata. Rá!

***

Ah! Todas as receitas seguem na sequência.

* post originalmente publicado no blog Rainhas do Lar

reciclar é preciso

Ideia de reciclagem


Minha casa produz uma grande quantidade de lixo reciclável, principalmente por conta das garrafinhas de água com gás, consumidas pelo marido que é v.i.c.i.a.d.o nelas. Eu coloco-as sempre para reciclagem, claro, mas aí recebi um e-mail da leitora Luiza Conti com uma ideia pra lá de boa, olha só…

Aproveitar as tampas de garrafas plásticas para fechar saquinhos de mantimentos na despensa. Não é genial? ;)

A princípio achei que só iria funcionar com os saquinhos mais finos, daqueles que a gente tem em casa, geralmente em rolos e que são usados para congelamentos e etc. Mas testei com as próprias embalagens e, apesar de ficar um pouco mais difícil pra fechar, ainda assim funciona perfeitamente – e você não gasta saquinho e ainda mantêm as informações que precisa da embalagem, como a data de vencimento por exemplo.

Adorei, Luiza! Obrigada por compartilhar a ideia batuta com a gente, viu?

E ah! Embora eu tenha encontrado diversas referências a essa ideia na net, não consegui detectar qual a fonte original, inclusive das imagens. Se alguém souber é só avisar, ok?

* post orginalmente publicado no Rainhas do Lar

delírios e outros bichos

O prazer da mesa

foto: Creative

Sabemos que a comida é a fonte de energia para o corpo humano, mas as pessoas estabelecem uma relação com a mesa que vai muito além da nutrição. Por que isso acontece?
Por Eugenio Mussak

O trânsito estava pesado como acontece normalmente nos fins de tarde em São Paulo. Sozinho no carro e ansioso por chegar em casa, eu procurava alguma companhia alentadora no rádio. Mas as emissoras de música pareciam estar em complô, reprisando sucessos desinteressantes. A de programação erudita estava tocando uma ópera angustiante, e as de notícias repetiam as informações sobre as agruras do tempo e as amarguras da política.

Foi quando encontrei um oásis radiofônico para me proteger: os comentários de um chef de cozinha. István Wessel, com sua fala calma, explicava aos ouvintes a receita de uma salada diferente. Era assim: corte em cubinhos uma maçã verde, uma maçã vermelha e uma cebola roxa. Sobre esses cubinhos, coloque duas colheres de maionese e um pote de iogurte natural. Depois mexa bem, acrescentando uma colher de açúcar, uma pitada de sal e umas folhinhas de dill (endro) fresco.

– É perfeita para acompanhar bife à milanesa, tanto quente quanto frio – explicou o mestre.

Pronto, eu já tinha um objetivo na vida, ou pelo menos uma razão para alegrar aquele fim de dia. Sabia que nossa cozinheira, a Ivonete, havia feito bife à milanesa, e, como eu não tinha almoçado em casa, deviam ter sobrado alguns. Passei, então, no supermercado para estar seguro de que não faltaria nenhum ingrediente para aquele prato simples e cheguei em casa cheio de alegria. De fato, os bifes estavam na geladeira, aguardando um destino nobre.

Abri uma garrafa de sauvignon blanc chileno, coloquei Yo-Yo Ma no som, vesti um avental e fui para a cozinha. Quando a Lu chegou, encontrou um marido feliz. Lá estava eu, no local mais frequentado da casa, que costumamos chamar de “cozinha-de-estar”, onde passamos muito tempo juntos e onde gostamos de receber os amigos. Então saboreamos os bifes da Ivonete, a salada do Wessel e o vinho dos chilenos, alimentando o corpo e a alma.

Aquele era mais um dos deliciosos momentos de comunhão que a mesa proporciona. É sensacional a experiência de comer não tendo como única finalidade a energia dos carboidratos, a estrutura das proteínas e a regulação das vitaminas. É claro que tudo isso é importante. Tão importante para a saúde e para a sobrevivência que a natureza conferiu, ao ato de comer, o sentido do prazer. E a humanidade, à medida que foi se sofisticando, elevou o ato de preparar e consumir o alimento ao estado de arte.

É verdade que comer acalma e torna as pessoas alegres?

Fome é uma sensação desagradável provocada por hormônios neurotransmissores que se esforçam para manter o corpo em funcionamento apesar da, digamos assim, queda dos níveis de combustível orgânico. Parte dessa sensação é o medo de morrer, pois essa é uma possibilidade real para um organismo que não se alimente. Daí o aumento de estresse, mau humor e dificuldade de concentração.

Então deduzimos que alimentar-se acalma e diminui o estresse. Assim que a pança é forrada, o cérebro produz impulsos até derramar uma porção extra de serotonina pelo organismo, gerando uma sensação de bem-estar quando comemos. Por se tratar de um instinto, tal fenômeno ocorre logo nos primeiros segundos de vida. Duvida?

Veja um bebê e comprove. Toda criança se tranquiliza quando é amamentada. Assim como acontece entre mãe e filho, alimentar-se também é troca contínua entre homem e mundo. Quando comemos, o que antes estava fora agora está em nosso corpo. Isso significa que se alimentar repõe o ser humano no macrocosmo, pois um mundo come o outro.

Repare: o homem planta a comida e a come, a ave come o resto e a elimina, o urubu come o morto e o evacua, o verme come o excreto e repõe o solo. Tudo que é plantado é colhido, tudo que nasce morre. É o ciclo da vida. Todos ingerem um pouco de tudo e o tudo se reintegra por fim, e o que nos resta é um bolinho azul de Terra, assado por um forno em temperatura de 6000 °C chamado Sol. Servido?

E, desde que começamos a nos organizar como espécie, fizemos do ato de comer um momento de trocas. Se trocamos elementos químicos com o planeta, entre nós trocamos elementos emocionais. A mesa é o local onde todos se colocam no mesmo plano, onde os olhares têm mais chance de se cruzarem. Um almoço em família é um momento de reposição de energia amorosa. Um jantar com seu amor é uma liturgia de cumplicidade. E um café da manhã, ainda que sozinho, é o prenúncio das emoções de viver mais um dia. Uma refeição não é apenas uma refeição, é uma cerimônia em que vida será transformada em mais vida.

A gastronomia é a arte suprema do gosto?

A gastronomia enquanto arte é, provavelmente, a mais completa entre todas. A verdadeira arte é aquela que desperta sensações que não são provocadas pelos órgãos dos sentidos a que, primariamente, se destinam. Várias vezes percebi isso. Ao ouvir Bach eu posso “ver” as ovelhas pastando tranquilas. Já “cheirei” lavandas em um quadro de Paul Cézanne e já “ouvi” o grito do Edvard Munch. A boa arte é assim, surpreendente. Te pega pelos olhos ou pelos ouvidos e te sequestra o corpo inteiro, além da alma, claro.

Pois, dessa forma, a culinária é mais arrebatadora das artes. Um bom prato você vê, cheira, ouve, sente e degusta. Lembro-me dos franceses Anne e Jean Michel, donos de um hotel de cinco quartos chamado Domaine de Mejeans, localizado em uma área rural de Aix-en-Provence, no sul da França. É uma pequena pousada, sim, mas pretende ser muito mais que isso, e consegue seu intento de ser imensa porque tem compromisso com a arte de bem receber e de bem servir à mesa.

Após o desjejum, servido na varanda, composto de café au lait, pães, manteiga fresca e geleias de frutas do quintal, Jean Michel costuma perguntar: “Você virão para o jantar?” “Sim”, respondemos de pronto, pois não há como perder aquele festim. “Ele será servido às 9 em ponto”, alerta. Após um dia de aventuras pela Provence, sentamos à mesa do pequeno refeitório, decorado de forma simples e aconchegante, para iniciar o jantar, que, nesse caso, é mais que um jantar, é uma sinfonia bem orquestrada de sensações.

“De entrada, um caldo de mariscos – sintam o embalo das ondas do mar”, recomendou o chef. “Agora a salada – percebam o frescor das folhas, que foram colhidas jovens em nossa horta”, continuou. “De prato principal, um sea bass que comprei no mercado de Marseille hoje pela manhã. Ainda dá para ouvir os gritos dos pescadores nele.”

A boa culinária é assim, nos toca por inteiro. E não importa se estamos falando da alta gastronomia francesa harmonizada com vinhos bordeaux, ou do virado à paulista servido no mezanino do Mercado Municipal, acompanhado por um chope gelado. O mesmo prazer olfativo que senti ao entrar em um bar corso em Milão e em um restaurante grego em Nova York também experimento no português aqui da esquina que serve um prato feito de comer com muito respeito, e na minha casa, quando chego e sinto o alho misturando-se com a cebola, acariciados pelo azeite em uma frigideira quente.

A boa culinária não é cara nem barata, não é sofisticada ou simples. É apenas culinária: vale-se de bons ingredientes, os combina com inteligência, respeita os temperos e é feita com dedicação e amor. Os pratos traduzem os sentimentos de quem os prepara, como vemos na literatura e no cinema. Em Como Água Para Chocolate, Tita, apaixonada por Pedro, o marido de sua irmã, transmite seu amor pelos pratos que prepara. Não é um filme sobre culinária, mas sobre erotismo.

Em Estômago, o nordestino Alecrim vira referência da baixa gastronomia e, quando comete um crime e vai preso, transforma seu talento culinário em ferramenta de poder para virar comandante na penitenciária. É verdade, não dá para escrever sobre o prazer da mesa sem meter a colher de pau em praticamente todas as esferas da vida.

A culinária é uma técnica, sim – senão, não haveria receitas. Dona Benta existe para propagar a técnica de cozinhar, para que se misturem os ingredientes certos com os temperos adequados. Mas é uma técnica que pode ser elevada à condição de arte. Para tanto, o ingrediente principal não é a receita, é o amor de quem a prepara.

Quando Babette, em A Festa de Babette, gasta sua pequena fortuna para oferecer um festim para seus patrões e seus convidados e é repreendida por sua patroa, que lhe diz que ela agora havia ficado pobre, responde com olhos serenos: “Uma artista nunca é pobre”. É o que vemos em cada cozinha em que se transforma, às vezes sem perceber, a culinária em arte. Cozinheiras e cozinheiros, profissionais ou amadores, sulistas ou nordestinos, franceses ou africanos, empregados ou patrões. Todos são ricos de alma se se derem conta de que são artistas entre as panelas e os ingredientes. Vida Simples, setembro/2010.

Fonte: Vida Simples, setembro/2010, gentilmente enviado pela leitora Ana Luiza de Oliveira.

* post orginalmente publicado no Rainhas do Lar

comendo (e bebendo) fora

Brunch no Mosteiro de São Bento

São Paulo é mesmo uma cidade que não cansa de me surpreender. Quando penso que já vi de tudo nessa terra, logo aparece algo que muito provavelmente seria difícil de encontrar em outros lugares.

Domingo passado eu fui surpreendida com um programa incrível, bem no lindo centro de São Paulo (beleza essa que infelizmente passa batido à maioria das pessoas que andam apressadas por lá). Em um programa que eu já tenho como imperdível, é possível assistir a missa das 10hs no Mosteiro de São Bento, ouvindo o relaxante canto gregoriano dos monges beneditinos na acústica mais do que perfeita da igreja; seguir para o teatro do Mosteiro (uma construção belíssima de 1902) e assistir a um espetáculo de música ou dança (neste domingo acompanhamos o espetáculo de dança Retraços, com o solo da bailarina Norma Duarte); ver uma exposição de arte sacra barroca e finalizar o programa desfrutando um fantástico brunch na iluminada sala de refeições do Mosteiro.

O brunch aliás dá um capítulo à parte. Comandado pelo Buffet Lia Tulmann (nas mãos talentosas de Lia e Marcela), o brunch oferece um cardápio tão bom, mas tão bom, que só não dá para chamar de pecado porque um dos monges já se encarrega de fazer uma oração antes de começar a comilança – no mínimo porque ele já sabe que o que virá a seguir será pura tentação, quer ver?

(a sala de refeições; a mesa dos salgados; detalhe do meu primeiro pratinho - dos muitos outros que vieram; meu espumante amigo e companheiro inseparável e o patê campagne que me causou suspiros)

A mesa salgada tinha presunto cru em finíssimas fatias com limão siciliano e pastrame laminado com pepinos em conserva; terrine de tomates assados com pesto de manjerona; salmão marinado em dill acompanhado de guacamole (achei a mistura de salmão e guacamole inusitada mas inacreditavelmente perfeita), sour cream e broinhas de milho; terrine Manhattan de ovos e ovas de capelin; seleção de queijos; cestarias de pães diversos; terrine de berinjelas, mascarpone e tomates secos (isso sim é um verdadeiro pecado, sorry monges! rs); tabule de frutas secas; cestinhas de massa phillo com mesclun de folhas baby, pomelo e erva doce; patê campagne clássico acompanhado de molho bernaise (uma coisa que eu nunca tinha provado e que também, com o perdão do trocadilho infame, é de comer rezando); strudel de queijo e damascos; couscus marroquino de vegetais com especiarias e ratatouille de legumes; torta folhada de bacalhau; quiche integral de espinafres com maçãs assadas, nozes e hortelãs; massa carameli recheada com cream cheese, sauteé de tomates cereja e manjericão (uma massinha em delicado formato de bala, cozida à perfeição); crepes grelhadas de abobrinhas e gengibre e fuzilli fresco ao ragu de ossobuco. Ufa! Não é de pirar? E tudo extremamente fresco e saboroso – um arraso.

E você aí lendo isso e pensando que a coisa já estava boa demais, né? Pois então senta pra babar mais um pouco com a composição da mesa de doces… compoteiras com baba rum e sagu de vinho e seus acompanhamentos (calda de maracujá e um impressionante zabaione); merengata de morangos (o mais perfeito que já provei na vida); mousse de coco e baba de moça; torta Leia de framboesas e chocolate (que deveria ser proibida de ser degustada em um lugar tão santo..rs); mini docinhos foférrimos da pâtisserie do Buffet; mini pudim de Ovomaltine ; frutas frescas da estação; suco de laranja, chá, café e as maiores delícias feitas na padaria dos monges – os bolos Dom Bernardo, Laetare e Santa Escolástica (olha eles lá embaixo).

(precisa de legenda? :)

Para acompanhar todo esse banquete, espumante gelado, água, refrigerantes e suco de tomate circulam pelo salão. O serviço é impecável e extremamente simpático e a trilha fica por conta do piano ao vivo, que completa a delícia de ambiente que eles conseguiram montar.

E já que o que é bom não deve mesmo se tornar corriqueiro, o programa acontece apenas no último domingo de cada mês e os convites custam 99 dinheiros – o que com certeza já não torna o passeio corriqueiro mesmo =)
Os lugares são limitados e concorridos e devem ser reservados com antecedência no próprio Mosteiro ou através do telefone (11) 2440-7837 com Silvia.

Eu digo que vale muito a pena se presentear com um passeio desses. E ó… vale a pena também colocar o Centro na sua rota de diversão, viu? Eu sou apaixonada por ele e domingo me dei conta de quanto tempo fazia que não o visitava assim, com olhos carinhosos :)

Taí, um jeito lindo de recarregar as energias para a semana. Recomendo :)

***

Ao final do programa, não deixe de passar na lojinha da padaria dos monges para levar pra casa as delícias feitas por lá.

Na foto, os minibolos mais cobiçados (ops! sorry, monges…cobiça é pecado né?): Santa Escolástica, com maçã e nozes; Dom Bernardo, com chocolate e café e o meu preferido Laetare, de amêndoas ***suspiros***. Mas o pão de mel com recheio de damasco também é pura luxúria, viu?

Ops! Luxúria não, né Dona Fabiana? =)))))))

comendo (e bebendo) fora

La Mar Cebicheria

(para abrir os trabalhos: maracujá sour – um pisco de maracujá que desce bem que é uma beleza | tira gosto: chips de banana e mandioca com molhinhos apimentados | causa: um bolinho de batata com limão e ají peruano delicioso | ceviche de robalo | plancha al ajillo com pescado, lula, camarões, manteiga de alho, pimenta dedo de moça e limão acompanhado de chaufa branco, um arroz frito com aspargos, brócolis e clara de ovo | sobremesa – picarone: um bolinho s.e.n.s.a.c.i.o.n.a.l com mel de rapadura, folha de figo e especiarias, de comer rezando. crédito da última foto: Época São Paulo)

Sexta de primavera em São Paulo, noite fresquinha, trânsito inacreditavelmente bom (pelo menos para as minhas bandas), marido que não come peixes e frutos do mar providencialmente no show de rock no Morumbi e eis que surge a oportunidade perfeita para eu e a Lena conhecermos a cozinha peruana do Lar Mar Cebicheria, comandada pelo chef Fábio Barbosa (com quem, coincidentemente, eu já tinha feito uma aula na mesma semana).

A rede que tem casas em Lima, São Francisco, México, Santiago, Panamá e Bogotá aportou por aqui ano passado e desde então eu andava doida para provar os famosos ceviches – um prato que eu amo mas que, pelos motivos já colocados na primeira frase, acaba rolando pouquíssimo em casa (banzo mega de ter que fazer dois pratos diferentes, manja?).

A casa super bonita, com pé direito altão, fachada e teto de vidro, luz bacana e ambiente modernoso com móveis escuros e cadeiras de um azul turquesa lindo, segue o estilo das outras casas da rede e foi projetada por uma dupla de arquitetas trazidas do Peru. Creio que a intenção era ter um climão meio praiano, mas praiano glam, tá ligada né? :)

Nós abrimos os trabalhos bebericando no bar (prove o pisco! pisco é bom!) e não tivemos problema com a mesa pois tínhamos reserva, mas a casa também não ficou insuportavelmente lotada, coisa que aliás ando abominando (fila pra comer? tô fora).

O serviço foi super atencioso e rápido e a comida estava deliciosa – nosso ceviche, a plancha de pescado e frutos do mar, o chaufa branco e o picarone de sobremesa estavam impecáveis.
O preço fica na média das casas do gênero em SP – uns 100 pilas por pessoa.

Super recomendo.

Serviço:
La Mar Cebicheria Peruana
Rua Tabapuã, 1410 – Jardins
Tel.: (11) 3073-1213

* post orginalmente publicado no Rainhas do Lar

delírios e outros bichos

Confissões de uma rainha

Eu não sei fazer sagu. Aliás, eu não sei nem se sagu tem ou não acento.
Okey, vá lá, eu até faço sagu e ele fica… vai, gostosinho. Meu marido gosta, eu gosto de ficar na frente da TV com um copinho, brincando com as bolinhas, mas… eu realmente não sei fazer sagu (vou considerar daqui para frente que sagu não tem acento, ok?)
Meu sagu é, digamos assim, do tipo que dá para o gasto, sabe como é? Eu sei direitinho como ele deve ser feito, sei que precisar ferver a água, botar as bolinhas, mexer de vez em quando, esperar que elas fiquem transparentes, temperar com vinho, ou groselha, cravo, talvez açucar e botar pra gelar. Bom, isso é o óbvio de fazer sagu.

Mas, não é assim. Eu obedeço toda essa ordem e mesmo assim meu sagu é… só um saguzinho. Até hoje não cheguei nem perto de preparar um sagu como o da minha avó, da minha tia, da minha mãe, e estou anos-luz de distância de fazer um sagu como o da mãe da Cassi, lá de Bento Gonçalves/RS, que prepara o sagu mais gostoso que eu já provei em toda a minha vida. Aquelas mãozinhas mágicas transformam simples bolinhas de fécula de mandioca em um doce divino. E como se isso só não fosse suficiente, ela ainda tem um plus – um creme de leite que ela faz para comer junto com o doce e quando o provei tive a impressão de ter atingido o ápice na escala-do-sagu. Dificilmente alguém vai me mostrar algo tão bom ou mesmo melhor do que aquele sagu feito por uma família tão simpática que, mesmo sem sequer me conhecerem, ao tomarem conhecimento do meu gosto pelo doce, fizeram questão de prepará-lo para mim. Além do feitio perfeito acrescente aí outro plus – carinho de monte.

Bem, voltemos ao meu sagu…

Meu sagu é gostosinho, já falei né? Sim, porque eu também não quero que vocês, leitores queridos, pensem que meu sagu é ruim. Não, não é. Ele não fica soltinho como os bons sagus, nem sempre fica no ponto certo do doce – porque sagu bom não é doooce, vocês sabem disso né? mas… ainda assim é um bom sagu.

Minha vontade de fazer o sagu perfeito também não me deixaria produzir algo muito ruim, até porque na busca pelo sagu perfeito já foram muitas e muitas panelas de bolinhas coloridas de experiência. Em uma das tentativas eu apelei até para os sagus de caixinha que eu acreditava não ter nenhuma chance de dar errado.
É, errado, errado, não deu mesmo…mas, aquela coisa que eu já disse várias vezes nesse texto repetitivo – bonzinho, e só.
No incrível mundo dos sagus for dummies eu testei todos os sabores – morango, framboesa, uva… o melhor é uva, acho eu, mas é preciso admitir que aquele pozinho artificial acaba definitivamente com a mágica de produzir sagu. E, não há sagu sem mágica na minha opinião.
As bolinhas coloridas, brilhantes, como pequenas buricas* …ah, eu acho lindo.
Quando criança eu achava que o sagu era feito de vidro, mas eu sabia que não era possível comer vidro. Eu era uma criança com muita imaginação mas desde pequena a lógica me persegue. Eu também achava que comer sagu dava poderes mágicos, como se cada bolinha me concedesse um desejo. Bem, vocês terão que me dar um desconto, oras. Eu fui criança nos anos 70 e naquela época era muito fácil fazer uma criança ser …criança. Não era preciso um computador nem um videogame. Crianças da minha geração eram criativas, sonhadores, ingênuas – como toda criança deveria ser.

Okey, já estou eu novamente viajando nesse texto, que já está meio sem eira nem beira. Tudo isso pra vir aqui apenas confessar que eu não sei fazer sagu e que cresci mas continuo acreditando que, para fazer um sagu como ele deve ser, há que se ter poderes mágicos, que eu infelizmente não tenho.

Na falta dos poderes mágicos eu vou cedendo às tentações modernas. É duro dizer mas… esse sagu aí é de caixinha, feito apenas com metade daquele pozinho que parece ki-suco e um tanto de vinho merlot. Ficou …bom, mas já sabe né? Ficou só bom. E um sagu não pode ser só bom – ele tem que ser … mágico.

* post originalmente publicado no blog Rainhas do Lar

vai rolar a festa

Recebendo uma amiga querida

É assim que é a minha amiga e rainha Silvia, muito querida. E foi com muita alegria, carinho e uma grande porção de saudade que eu preparei esse jantarzinho para recebê-la. Ela veio da Espanha e para matarmos a saudade e botarmos a fofoca em dia o encontro foi lá em casa,com uma pequena farra gastronômica em plena quarta-feira, regado a vinho branco e rosé escolhidos pela Clau.

Com uma barriguinha linda de 5 meses, a Silvia e o Gabriel (que já é gourmet na barriga da mãe…rs) provaram ontem…

:: enroladinhos de mussarella de búfala com pepino, pera e kani kama;
:: beringela em conserva com pãezinhos;
:: salada fofinha (preparada por ela e pela Clau);
:: conchiglione de abóbora com molho de tomate fresco e manjericão;
:: spagueti ao molho de rúcula, tomate cereja e mussarella de búfala;
:: suflê de nutella com sorvete de creme


Ufa!!! Foi mesmo uma farra gastronômica com comidinhas deliciosas (todas as receitas seguem nos próximos posts) mas o bom mesmo foi reencontrar a Si e vê-la bem, depois de tanto sufoco, né amiga?

Tem momentos na vida da gente que são assim, especias e, muito além da comida, o que faz com que se tornem assim especiais é a companhia de pessoas que a gente gosta muito. Agora, se tiver comida boa então… ah, aí já é perfeito, né? :)

* post originalmente publicado no blog Rainhas do Lar

ideias, dicas e truques

Tirando a pele do tomate

1. Na ponta do tomate faz-se um corte em X

2. Os tomates vão para uma água fervendo por menos de um minutinho e nada mais (sem foto);

3. Da água fervendo direto para uma vasilha com água fria (eu coloco cubos de gelo também) – olha a pelinha lá já saindo, tá vendo?;

4. De lá onde o X foi feito é só puxar a pele que sairá facilmente ou simplesmente esfregá-lo um pouco que a pele já sairá;

5. Os tomatinhos ficam limpinhos, sem pelinhas.

* post originalmente publicado no blog Rainhas do Lar

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