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delírios e outros bichos

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La Grande Epicerie Paris

Você percebe que é MESMO uma pessoa das panelas quando vai para a França e, ao invés de querer se jogar nas (maravilhosas) lojas de cosméticos e perfumes, só quer saber de feira e supermercado. Rá!

Aqui a espetacular La Grande Epicerie de Paris, onde tive um dos maiores surtos da minha vida e comprei o mundo E o fundo. E né… deixa eu ser feliz enquanto não chega a fatura do cartão de crédito, néam? (mas ela vai chegar e aí, pffff… posso cair dura)

Na foto: parte da bancada de peixes e frutos do mar (francês adora frutos do mar); queijos, queijos, queijos e queijos (francês adora queijo, sabia? dã!); a geladeira das aves (fiquei tensa com essa ave com penas aí); o açougue (detalhe para os medalhões que pareciam florzinhas… okey, viajei, mas é que eu  já tinha tomado vinho a beça, então tenho uma certa desculpa vai); a banca dos feijões (nem sabia que francês curtia tanto assim um feijão, viu?) e as sopas prontas em garrafinhas – coisa que, óbvio, eu invejei horrores (sim, meu bem, eu compro sopa pronta porque sou sopólatra, esqueceu?).

Ai ai… curti a beça vasculhar essas prateleiras, viu? E ainda tem mil fotos (todas de qualidade duvidosa, é verdade) de comida, de feira, de bancas…

É, a pessoa realmente É da cozinha =)

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Pistillos de açafrão

O açafrão é extraído dos estigmas de flores de uma variedade de Crocus sativus, uma planta da família das Iridáceas. É utilizado desde a Antiguidade como especiaria, principalmente na culinária mediterrânica, região de onde a variedade é originária, normalmente em risotos, caldos e massas. Na Espanha, é item essencial à paella.

É, atualmente, a especiaria mais cara do mundo, uma vez que para a preparação de um quilo são processadas manualmente cerca de 100 mil flores da planta, para a retirada de seus estigmas.

Fonte: Wikipédia

Logo mais, a receita da paella onde usei essas belezuras aí :)

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Ajudar faz bem

Você que participa de redes sociais pode se jogar em uma campanha super bacana que a AdeS está lançando e, de quebra, ajudar a Casa Hope e o GRAAC, duas respeitadas e bem-sucedidas ONGs do País. E olha só como é fácil…

A campanha entitulada “Cada seguidor vale 1 litro” pretende distribuir um litro de AdeS para instituição sem fins lucrativos e Instituto de Oncologia Pediátrica (OIP) a cada novo internauta que seguir a marca no Twitter (@ades_brasil) ou curtir o perfil da marca na fanpage do Facebook (www.facebook.com/adesbrasil). Para quem já é seguidor, acaba automaticamente colaborando: hoje com a soma de seguidores de AdeS nas duas plataformas, as entidades já arrecadaram uma doação de mais de 8 mil litros, mas esse número pode ser bem maior!

A campanha ficará no ar até 31 de março e está limitada à doação de 50 mil litros. Os participantes poderão por mecânica das próprias redes sociais, curtir e seguir o perfil de AdeS somente 1 vez. Após a contabilização de seguidores das redes sociais da marca – contando seguidores do perfil no Twitter e fãs da página do Facebook – os produtos de AdeS, em embalagens de 1L da linha Frutas ou Original, serão doados para a Casa Hope e o GRAACC – Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer. O volume total a ser doado dependerá da quantidade de pessoas que aderirem à campanha. O objetivo é doar até 25 mil litros de produto para cada entidade.

Além de mobilizar a população para a causa, a ação vai ajudar a instituição a manter seu padrão de atendimento com índices de cura de cerca de 70%, taxa semelhante à de grandes hospitais europeus e norte americanos”, relata o Superintendente Administrativo Financeiro e CEO do GRAACC, José Hélio Contador Filho.

Não é bacana? Eu já curti e já estou seguindo a Ades… vem você também? ;)

E isso não é um publieditorial, viu? ;)

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*suspiros*

foto: The Pioneer Woman Cooks

KitchenAid Limited Edition feita exclusivamente para o blog (que eu amo de paixão) The Pioneer Woman Cooks. Fala, isso que é loosho, néam?

Só 4 exemplares foram feitos e a autora do blog (Ree Drummond) precisou escolher duas respostas para a pergunta “Qual o seu doce favorito” entre 48.948 participantes – Ufa! Isso sim que é responsabilidade!!!

Bem, a nós simples mortais que nunca teremos essa belezura indecentemente customizada, restou apenas o sonho. E, né… sonhar não custa nada (ainda).

E olha que eu nem ligo pra batedeira… mas essa aí é pura cobiça :)

http://thepioneerwoman.com/cooking/2011/02/last-two-to-tango/?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+pwcooks+%28The+Pioneer+Woman+Cooks!%29&utm_content=Google+Reader

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Mudança

foto: GettyImages

Então, mudança …

Bem, é aquela coisa de sempre – muita caixa, muita coisa pra arrumar (às vezes uma dor de cabeça por conta do cheiro de tinta fresca), não tem muito jeito não e por aqui a coisa não está muito diferente. Aos poucos estou “desencaixotando” as coisas, publicando devargarzinho as receitas dos cinco anos de Rainhas do Lar, os posts que tenho aquele apego, as ideias boas que rolaram nesses anos todos… enfim, mover esse material não é uma tarefa exatamente rápida e por isso a coisa aqui ainda demora um pouco a engrenar, mas eu faço questão de trazer tudo isso pra cá – o passado afinal faz parte de quem a gente é hoje, né? Ainda mais um passado tão lindo e um conteúdo tão rico –  e se eu ainda guardo até papel de bala que ganhei do primeiro namorado, imagina?  ;)
Mas ó, eu tô sem pressa, portanto a coisa vai acontecer num ritmo meio slow, se é que vocês me entendem ;)

Minha cozinha andou abandonada, foi muita coisa envolvida nesse começo de ano – sério, tenho a sensação de que já trabalhei o equivalente a uns… 10 meses, e a gente está só no comecinho ainda (Deus que me dê forças!), mas aos poucos estou retornando. Saudade das panelas, do lugar da casa que tanto me conforta e saudade também de escrever, coisa que descobri que me faz muita falta.

Daí que eu não vou me estender muito mais não. A casa está aberta, a cozinha está funcionando e o café tá no bule (mentira, tá na garrafa térmica já) e como eu acho que casa nova pede uma gracinha de inauguração, vou começar no próximo post com aquilo que, dizem, tem gente que gosta mais até do que sexo (sério isso gente?) – chocolate.

Então é isso, cookies e café fresquinho. Tá servido? ;)

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O amor e as chaves com pernas

Ele era um cara tranquilo, inteligente, bonito e educado mas um defeito genético o impedia de ser organizado. Vivia no meio do caos e lá se encontrava. Tudo à sua volta não tinha lógica e não fazia sentido mas, insistia ele, existia beleza no caos e tendo ele alma de artista, era normal que preferisse viver cercado dela.
Ela ao contrário era controladora, metódica e com forte tendência militar. Já na infância ganhara o apelido de “general”, tal sua queda pelo controle. Sua organização era perfeita, lógica e nada fugia do seu controle (embora as más-línguas teimem em dizer que ela se permitia uma fraqueza – seus cds, que seguiam uma estranha lógica de (des)organização – mas, a verdade nunca se soube pois ela jamais admitiria tal fato).

Por um desses caprichos do destino os dois se encontraram e, na estranha balança da vida, descobriram que se compensavam. Ele bagunçou o arrumado mundo dela, enquanto ela trouxe uma certa ordem ao caos da vida dele. Era certo – eles se apaixonaram e, como acontece em toda boa história de amor, os dois já não conseguiam mais viver longe um do outro.
Foi então que uniram suas escovas de dente e repletos de amor passaram a dividir a cama que ficava agora sob o mesmo teto.

(*suspiros)

É aí que nossa história de amor água-com-açucar ganha sua primeira guinada – o romance ganha ares de mistério quando nossa mocinha apaixonada se vê diante do terrível enigma das chaves com pernas.
Como que por encanto, as chaves daquela casa sumiam todas as vezes que ela as procurava. Eram da porta, do cadeado, do carro … todas as chaves simplesmente desapareciam.
A veia militar de nossa heroína a faria investigar o mistério e a levaria à surpreendente solução do enigma – era seu amado o responsável pelo sumiço das chaves andantes. (OH!). Dizia ele que as chaves tinham forte atração pelo caos e estariam, elas mesmas, provocando deliberadamente a confusão. Negava-se a admitir que sua estranha lógica organizacional (ou a falta total dela) o levava a circular com as chaves em lugares impensáveis como o banheiro, a churrasqueira, a dispensa e lá deixá-las, causando tempos depois uma enlouquecida e insuportável caça às chaves e consequentemente uma forte dor de cabeça em nossa heroína.

Disposta a mudar o terrível e cruel destino que a deixava fadada ao desespero todas as manhãs quando tentava tirar o carro da garagem, ela comprou o acessório que colocaria fim ao sofrimento e traria novamente a paz ao seu organizado mundo – o porta-chaves. Em casa, explicou detalhadamente o funcionamento do mecanismo para seu amado – a localização estratégica do artefato, junto à porta, facilitaria ainda mais a já muito simples operação e assim, tudo estaria resolvido.

Parecia que tudo caminhava para um final feliz, como toda história de amor deve ter, mas novamente o destino, exercendo seu poder, insistia que aquele casal provaria seu amor todas as manhãs, todos os dias. Ele continuaria a perder as chaves e ela passaria seus dias a olhar o inútil acessório pendurado ao lado da porta, que um dia a fez crer que tudo estava sob seu controle.

Resignada, com o tempo nossa heroína descobriria muitas coisas com o episódio das chaves desaparecidas: que o estranho traçado do destino não pode ser controlado, que algumas características do ser amado não podem ser alteradas, que existe até uma certa (pequena, minúscula) beleza no caos, que a ditadura não é um regime válido e, principalmente, que o amor supera obstáculos… até mesmo os supostamente intransponíveis.

E assim, por enquanto eles vivem felizes para sempre.

Fim.

***

Essa é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a vida real é … mera coincidência ;)
Hohoho.

* post originalmente publicado no blog Rainhas do Lar

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O prazer da mesa

foto: Creative

Sabemos que a comida é a fonte de energia para o corpo humano, mas as pessoas estabelecem uma relação com a mesa que vai muito além da nutrição. Por que isso acontece?
Por Eugenio Mussak

O trânsito estava pesado como acontece normalmente nos fins de tarde em São Paulo. Sozinho no carro e ansioso por chegar em casa, eu procurava alguma companhia alentadora no rádio. Mas as emissoras de música pareciam estar em complô, reprisando sucessos desinteressantes. A de programação erudita estava tocando uma ópera angustiante, e as de notícias repetiam as informações sobre as agruras do tempo e as amarguras da política.

Foi quando encontrei um oásis radiofônico para me proteger: os comentários de um chef de cozinha. István Wessel, com sua fala calma, explicava aos ouvintes a receita de uma salada diferente. Era assim: corte em cubinhos uma maçã verde, uma maçã vermelha e uma cebola roxa. Sobre esses cubinhos, coloque duas colheres de maionese e um pote de iogurte natural. Depois mexa bem, acrescentando uma colher de açúcar, uma pitada de sal e umas folhinhas de dill (endro) fresco.

– É perfeita para acompanhar bife à milanesa, tanto quente quanto frio – explicou o mestre.

Pronto, eu já tinha um objetivo na vida, ou pelo menos uma razão para alegrar aquele fim de dia. Sabia que nossa cozinheira, a Ivonete, havia feito bife à milanesa, e, como eu não tinha almoçado em casa, deviam ter sobrado alguns. Passei, então, no supermercado para estar seguro de que não faltaria nenhum ingrediente para aquele prato simples e cheguei em casa cheio de alegria. De fato, os bifes estavam na geladeira, aguardando um destino nobre.

Abri uma garrafa de sauvignon blanc chileno, coloquei Yo-Yo Ma no som, vesti um avental e fui para a cozinha. Quando a Lu chegou, encontrou um marido feliz. Lá estava eu, no local mais frequentado da casa, que costumamos chamar de “cozinha-de-estar”, onde passamos muito tempo juntos e onde gostamos de receber os amigos. Então saboreamos os bifes da Ivonete, a salada do Wessel e o vinho dos chilenos, alimentando o corpo e a alma.

Aquele era mais um dos deliciosos momentos de comunhão que a mesa proporciona. É sensacional a experiência de comer não tendo como única finalidade a energia dos carboidratos, a estrutura das proteínas e a regulação das vitaminas. É claro que tudo isso é importante. Tão importante para a saúde e para a sobrevivência que a natureza conferiu, ao ato de comer, o sentido do prazer. E a humanidade, à medida que foi se sofisticando, elevou o ato de preparar e consumir o alimento ao estado de arte.

É verdade que comer acalma e torna as pessoas alegres?

Fome é uma sensação desagradável provocada por hormônios neurotransmissores que se esforçam para manter o corpo em funcionamento apesar da, digamos assim, queda dos níveis de combustível orgânico. Parte dessa sensação é o medo de morrer, pois essa é uma possibilidade real para um organismo que não se alimente. Daí o aumento de estresse, mau humor e dificuldade de concentração.

Então deduzimos que alimentar-se acalma e diminui o estresse. Assim que a pança é forrada, o cérebro produz impulsos até derramar uma porção extra de serotonina pelo organismo, gerando uma sensação de bem-estar quando comemos. Por se tratar de um instinto, tal fenômeno ocorre logo nos primeiros segundos de vida. Duvida?

Veja um bebê e comprove. Toda criança se tranquiliza quando é amamentada. Assim como acontece entre mãe e filho, alimentar-se também é troca contínua entre homem e mundo. Quando comemos, o que antes estava fora agora está em nosso corpo. Isso significa que se alimentar repõe o ser humano no macrocosmo, pois um mundo come o outro.

Repare: o homem planta a comida e a come, a ave come o resto e a elimina, o urubu come o morto e o evacua, o verme come o excreto e repõe o solo. Tudo que é plantado é colhido, tudo que nasce morre. É o ciclo da vida. Todos ingerem um pouco de tudo e o tudo se reintegra por fim, e o que nos resta é um bolinho azul de Terra, assado por um forno em temperatura de 6000 °C chamado Sol. Servido?

E, desde que começamos a nos organizar como espécie, fizemos do ato de comer um momento de trocas. Se trocamos elementos químicos com o planeta, entre nós trocamos elementos emocionais. A mesa é o local onde todos se colocam no mesmo plano, onde os olhares têm mais chance de se cruzarem. Um almoço em família é um momento de reposição de energia amorosa. Um jantar com seu amor é uma liturgia de cumplicidade. E um café da manhã, ainda que sozinho, é o prenúncio das emoções de viver mais um dia. Uma refeição não é apenas uma refeição, é uma cerimônia em que vida será transformada em mais vida.

A gastronomia é a arte suprema do gosto?

A gastronomia enquanto arte é, provavelmente, a mais completa entre todas. A verdadeira arte é aquela que desperta sensações que não são provocadas pelos órgãos dos sentidos a que, primariamente, se destinam. Várias vezes percebi isso. Ao ouvir Bach eu posso “ver” as ovelhas pastando tranquilas. Já “cheirei” lavandas em um quadro de Paul Cézanne e já “ouvi” o grito do Edvard Munch. A boa arte é assim, surpreendente. Te pega pelos olhos ou pelos ouvidos e te sequestra o corpo inteiro, além da alma, claro.

Pois, dessa forma, a culinária é mais arrebatadora das artes. Um bom prato você vê, cheira, ouve, sente e degusta. Lembro-me dos franceses Anne e Jean Michel, donos de um hotel de cinco quartos chamado Domaine de Mejeans, localizado em uma área rural de Aix-en-Provence, no sul da França. É uma pequena pousada, sim, mas pretende ser muito mais que isso, e consegue seu intento de ser imensa porque tem compromisso com a arte de bem receber e de bem servir à mesa.

Após o desjejum, servido na varanda, composto de café au lait, pães, manteiga fresca e geleias de frutas do quintal, Jean Michel costuma perguntar: “Você virão para o jantar?” “Sim”, respondemos de pronto, pois não há como perder aquele festim. “Ele será servido às 9 em ponto”, alerta. Após um dia de aventuras pela Provence, sentamos à mesa do pequeno refeitório, decorado de forma simples e aconchegante, para iniciar o jantar, que, nesse caso, é mais que um jantar, é uma sinfonia bem orquestrada de sensações.

“De entrada, um caldo de mariscos – sintam o embalo das ondas do mar”, recomendou o chef. “Agora a salada – percebam o frescor das folhas, que foram colhidas jovens em nossa horta”, continuou. “De prato principal, um sea bass que comprei no mercado de Marseille hoje pela manhã. Ainda dá para ouvir os gritos dos pescadores nele.”

A boa culinária é assim, nos toca por inteiro. E não importa se estamos falando da alta gastronomia francesa harmonizada com vinhos bordeaux, ou do virado à paulista servido no mezanino do Mercado Municipal, acompanhado por um chope gelado. O mesmo prazer olfativo que senti ao entrar em um bar corso em Milão e em um restaurante grego em Nova York também experimento no português aqui da esquina que serve um prato feito de comer com muito respeito, e na minha casa, quando chego e sinto o alho misturando-se com a cebola, acariciados pelo azeite em uma frigideira quente.

A boa culinária não é cara nem barata, não é sofisticada ou simples. É apenas culinária: vale-se de bons ingredientes, os combina com inteligência, respeita os temperos e é feita com dedicação e amor. Os pratos traduzem os sentimentos de quem os prepara, como vemos na literatura e no cinema. Em Como Água Para Chocolate, Tita, apaixonada por Pedro, o marido de sua irmã, transmite seu amor pelos pratos que prepara. Não é um filme sobre culinária, mas sobre erotismo.

Em Estômago, o nordestino Alecrim vira referência da baixa gastronomia e, quando comete um crime e vai preso, transforma seu talento culinário em ferramenta de poder para virar comandante na penitenciária. É verdade, não dá para escrever sobre o prazer da mesa sem meter a colher de pau em praticamente todas as esferas da vida.

A culinária é uma técnica, sim – senão, não haveria receitas. Dona Benta existe para propagar a técnica de cozinhar, para que se misturem os ingredientes certos com os temperos adequados. Mas é uma técnica que pode ser elevada à condição de arte. Para tanto, o ingrediente principal não é a receita, é o amor de quem a prepara.

Quando Babette, em A Festa de Babette, gasta sua pequena fortuna para oferecer um festim para seus patrões e seus convidados e é repreendida por sua patroa, que lhe diz que ela agora havia ficado pobre, responde com olhos serenos: “Uma artista nunca é pobre”. É o que vemos em cada cozinha em que se transforma, às vezes sem perceber, a culinária em arte. Cozinheiras e cozinheiros, profissionais ou amadores, sulistas ou nordestinos, franceses ou africanos, empregados ou patrões. Todos são ricos de alma se se derem conta de que são artistas entre as panelas e os ingredientes. Vida Simples, setembro/2010.

Fonte: Vida Simples, setembro/2010, gentilmente enviado pela leitora Ana Luiza de Oliveira.

* post orginalmente publicado no Rainhas do Lar

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Confissões de uma rainha

Eu não sei fazer sagu. Aliás, eu não sei nem se sagu tem ou não acento.
Okey, vá lá, eu até faço sagu e ele fica… vai, gostosinho. Meu marido gosta, eu gosto de ficar na frente da TV com um copinho, brincando com as bolinhas, mas… eu realmente não sei fazer sagu (vou considerar daqui para frente que sagu não tem acento, ok?)
Meu sagu é, digamos assim, do tipo que dá para o gasto, sabe como é? Eu sei direitinho como ele deve ser feito, sei que precisar ferver a água, botar as bolinhas, mexer de vez em quando, esperar que elas fiquem transparentes, temperar com vinho, ou groselha, cravo, talvez açucar e botar pra gelar. Bom, isso é o óbvio de fazer sagu.

Mas, não é assim. Eu obedeço toda essa ordem e mesmo assim meu sagu é… só um saguzinho. Até hoje não cheguei nem perto de preparar um sagu como o da minha avó, da minha tia, da minha mãe, e estou anos-luz de distância de fazer um sagu como o da mãe da Cassi, lá de Bento Gonçalves/RS, que prepara o sagu mais gostoso que eu já provei em toda a minha vida. Aquelas mãozinhas mágicas transformam simples bolinhas de fécula de mandioca em um doce divino. E como se isso só não fosse suficiente, ela ainda tem um plus – um creme de leite que ela faz para comer junto com o doce e quando o provei tive a impressão de ter atingido o ápice na escala-do-sagu. Dificilmente alguém vai me mostrar algo tão bom ou mesmo melhor do que aquele sagu feito por uma família tão simpática que, mesmo sem sequer me conhecerem, ao tomarem conhecimento do meu gosto pelo doce, fizeram questão de prepará-lo para mim. Além do feitio perfeito acrescente aí outro plus – carinho de monte.

Bem, voltemos ao meu sagu…

Meu sagu é gostosinho, já falei né? Sim, porque eu também não quero que vocês, leitores queridos, pensem que meu sagu é ruim. Não, não é. Ele não fica soltinho como os bons sagus, nem sempre fica no ponto certo do doce – porque sagu bom não é doooce, vocês sabem disso né? mas… ainda assim é um bom sagu.

Minha vontade de fazer o sagu perfeito também não me deixaria produzir algo muito ruim, até porque na busca pelo sagu perfeito já foram muitas e muitas panelas de bolinhas coloridas de experiência. Em uma das tentativas eu apelei até para os sagus de caixinha que eu acreditava não ter nenhuma chance de dar errado.
É, errado, errado, não deu mesmo…mas, aquela coisa que eu já disse várias vezes nesse texto repetitivo – bonzinho, e só.
No incrível mundo dos sagus for dummies eu testei todos os sabores – morango, framboesa, uva… o melhor é uva, acho eu, mas é preciso admitir que aquele pozinho artificial acaba definitivamente com a mágica de produzir sagu. E, não há sagu sem mágica na minha opinião.
As bolinhas coloridas, brilhantes, como pequenas buricas* …ah, eu acho lindo.
Quando criança eu achava que o sagu era feito de vidro, mas eu sabia que não era possível comer vidro. Eu era uma criança com muita imaginação mas desde pequena a lógica me persegue. Eu também achava que comer sagu dava poderes mágicos, como se cada bolinha me concedesse um desejo. Bem, vocês terão que me dar um desconto, oras. Eu fui criança nos anos 70 e naquela época era muito fácil fazer uma criança ser …criança. Não era preciso um computador nem um videogame. Crianças da minha geração eram criativas, sonhadores, ingênuas – como toda criança deveria ser.

Okey, já estou eu novamente viajando nesse texto, que já está meio sem eira nem beira. Tudo isso pra vir aqui apenas confessar que eu não sei fazer sagu e que cresci mas continuo acreditando que, para fazer um sagu como ele deve ser, há que se ter poderes mágicos, que eu infelizmente não tenho.

Na falta dos poderes mágicos eu vou cedendo às tentações modernas. É duro dizer mas… esse sagu aí é de caixinha, feito apenas com metade daquele pozinho que parece ki-suco e um tanto de vinho merlot. Ficou …bom, mas já sabe né? Ficou só bom. E um sagu não pode ser só bom – ele tem que ser … mágico.

* post originalmente publicado no blog Rainhas do Lar

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